Antes da chegada dos espanhóis ao vale do México no século XVI, Teotihuacan já era uma ruína envolta em mistério. A cidade, que havia florescido entre os séculos I e VII d.C., havia sido abandonada por volta do século VIII, deixando apenas suas colossais pirâmides e uma malha urbana silenciosa como testemunhos de um passado glorioso. Os mexicas (ou astecas), que dominaram a região séculos mais tarde, não construíram Teotihuacan, mas a reverenciavam como um local sagrado. Para eles, aquela era a “cidade onde os deuses nasceram” — um centro cosmogônico onde o sol e a lua teriam sido criados, segundo sua mitologia.
Portanto, o conhecimento pré-colonial sobre Teotihuacan era simbólico, baseado em tradições orais e mitos, e não em registros históricos concretos. As sociedades pós-clássicas não sabiam quem havia fundado a cidade, mas a utilizavam como referência espiritual e política. Nenhum povo antes dos espanhóis a escavou ou tentou estudá-la de maneira sistemática — ela era, na essência, um monumento ancestral velado pelo tempo e pelo silêncio das eras.
O apagamento cultural após o declínio da cidade
Após seu colapso — cujas causas ainda são objeto de debate entre arqueólogos — Teotihuacan foi gradualmente esquecida como centro político e urbano. Os povos que habitaram a Mesoamérica após sua queda, como os toltecas e posteriormente os mexicas, herdaram apenas ecos simbólicos da grandiosidade da cidade. O apagamento de Teotihuacan não foi apenas físico, mas também cultural: não restaram registros escritos diretos de sua sociedade, língua ou governança.
Esse esquecimento foi intensificado com a chegada dos colonizadores espanhóis. A conquista impôs uma nova lógica de memória histórica, com uma reinterpretação forçada do passado indígena. As ruínas de Teotihuacan foram então integradas a uma narrativa eurocêntrica que desprezava o legado pré-colombiano, classificando as civilizações indígenas como “primitivas” e incapazes de feitos arquitetônicos tão monumentais — o que, ironicamente, só aumentava o fascínio europeu pelas ruínas. Teotihuacan passou a ser percebida por muitos cronistas como um “mistério” sem dono, reforçando sua aura enigmática.
A confusão: por que Teotihuacan era atribuída aos astecas
Grande parte da confusão histórica que associava Teotihuacan aos astecas vem da falta de documentação indígena sobre a origem da cidade e da percepção externa dos primeiros cronistas europeus. Como os mexicas utilizavam o local para rituais e peregrinações, muitos espanhóis presumiram que eles haviam sido os construtores originais. Essa associação equivocada foi reforçada por cronistas como Bernardino de Sahagún, que, embora tenha registrado os relatos indígenas com grande riqueza de detalhes, nem sempre distinguiu as camadas temporais entre os povos.
Além disso, o termo “Teotihuacan” é nahuatl — a língua dos mexicas — e não o idioma original dos fundadores da cidade, cuja identidade permanece incerta até hoje (com hipóteses que incluem povos totonacas, otomis ou mesmo um grupo multiétnico). Essa herança linguística reforçou ainda mais a falsa ideia de que os astecas eram os responsáveis pela construção das pirâmides e avenidas monumentais. Assim, ao longo dos séculos, Teotihuacan foi erroneamente colocada sob a sombra asteca, obscurecendo ainda mais sua verdadeira origem.
Desvendando como Teotihuacan
Vamos desvendar como Teotihuacan, apesar de ter sido esquecida como sociedade, permaneceu viva nos mapas coloniais e nos relatos dos primeiros séculos da Nova Espanha. Mais do que uma ruína silenciosa, ela continuou a existir como ponto simbólico e geográfico em diversos códices, mapas indígenas e representações cartográficas espanholas. Exploraremos, com profundidade e rigor, como a cidade foi registrada, reinterpretada e “redescoberta” através da lente da cartografia colonial — uma forma híbrida de memória entre o olhar indígena e o europeu.
Ao analisar a presença de Teotihuacan nos mapas coloniais, não apenas iluminamos uma etapa crucial da arqueologia mesoamericana, mas também revelamos como a cartografia atuou como instrumento de preservação (e distorção) histórica. Este texto propõe um mergulho interdisciplinar entre história, geografia simbólica e arqueologia, resgatando a trajetória de uma cidade que, embora esquecida por seus próprios criadores, nunca deixou de habitar o imaginário coletivo.
Teotihuacan Antes dos Espanhóis: Uma Cidade Esquecida Pela História
Queda e abandono da cidade no século VII
Por volta do século VII d.C., Teotihuacan, uma das maiores e mais influentes cidades da Mesoamérica, entrou em colapso. A metrópole, que chegou a abrigar cerca de 100 mil habitantes em seu apogeu, foi gradualmente abandonada, deixando para trás apenas ruínas silenciosas e uma arquitetura monumental. As causas desse declínio ainda são objeto de debates entre arqueólogos: hipóteses incluem crises internas, rebeliões populares, mudanças climáticas, esgotamento de recursos naturais ou até pressões externas de grupos rivais. Evidências de incêndios controlados em áreas residenciais sugerem uma ruptura violenta, talvez ligada a conflitos sociais.
Após sua queda, Teotihuacan foi esquecida como centro político e urbano. Nenhum império mesoamericano posterior reivindicou a herança de sua fundação. Ao contrário das cidades maias, que deixaram estelas e inscrições que contam suas histórias dinásticas, Teotihuacan desapareceu no anonimato — um silêncio histórico que intrigaria gerações futuras.
Tradição oral nahua e a mitologização do local
Apesar do esquecimento político, Teotihuacan não desapareceu completamente da memória indígena. Quando os mexicas chegaram ao vale do México séculos depois, encontraram as pirâmides e estruturas abandonadas e atribuíram-lhes um significado sagrado. Segundo a tradição oral nahua, ali teria ocorrido o nascimento do Sol e da Lua, em uma época primordial em que os deuses se sacrificaram para criar o mundo. A cidade, portanto, tornou-se um símbolo cosmogônico — um ponto de origem espiritual da existência.
Os mexicas não sabiam quem havia construído Teotihuacan, mas não por isso deixaram de venerá-la. Eles a transformaram em local de peregrinação e ritual, reinterpretando suas ruínas dentro de sua própria cosmologia. Nesse processo, Teotihuacan passou a ser um “lugar fora do tempo”, suspenso entre a história e o mito, tornando-se um palimpsesto sagrado.
O nome “Teotihuacan” e seu significado simbólico
O nome “Teotihuacan” vem do náuatle e pode ser traduzido como “lugar onde os deuses nasceram” (de teotl = deus, hua = possessivo, e can = lugar). A própria etimologia revela a dimensão espiritual com que os mexicas interpretaram as ruínas. O termo não reflete o nome original da cidade — que permanece desconhecido — mas sim uma reinterpretação simbólica atribuída séculos após seu abandono.
Essa nomeação é um exemplo poderoso de como os povos mesoamericanos utilizavam a linguagem para ressignificar o passado. Ao batizar a cidade com um nome tão carregado de significado, os mexicas não apenas a adotaram espiritualmente, mas também a inseriram em sua narrativa religiosa e política. Teotihuacan passou, então, a habitar um território duplo: ao mesmo tempo esquecida como civilização e eternizada como santuário dos deuses.
Ausência de registros escritos no período pós-clássico
Uma das maiores dificuldades em estudar Teotihuacan é a ausência quase total de registros escritos que possam ser atribuídos diretamente à sua elite ou administração. Diferente de culturas como a maia ou a zapoteca, os teotihuacanos não deixaram inscrições hieroglíficas que documentassem sua história política, linhagens reais ou conflitos militares.
Essa ausência ecoou nos séculos seguintes. Os povos que habitaram a Mesoamérica após o colapso de Teotihuacan não possuíam informações precisas sobre seus fundadores, líderes ou mesmo sua língua original. Como resultado, a cidade desapareceu das narrativas históricas formais, sobrevivendo apenas em mapas míticos, relatos orais e impressões visuais das suas ruínas.
Essa lacuna documental foi determinante para que Teotihuacan se tornasse um enigma histórico. Sem registros escritos que pudessem vincular a cidade a um povo específico, sua identidade foi despersonalizada, e o campo ficou aberto para interpretações míticas — tanto por parte dos povos indígenas quanto, posteriormente, pelos colonizadores europeus.
O Papel dos Mapas Coloniais no Século XVI: O Que se Mapeava e Por Quê
Conquista do México e surgimento da cartografia colonial
A conquista do México pelos espanhóis entre 1519 e 1521 não apenas transformou os sistemas políticos e religiosos mesoamericanos, como também desencadeou um esforço sistemático de documentação e controle visual do território recém-subjugado. A cartografia colonial, nesse contexto, não era uma prática neutra ou meramente geográfica: era uma tecnologia de poder. Os mapas coloniais emergiram como ferramentas essenciais para consolidar a nova ordem imposta pela Coroa espanhola, sendo utilizados para organizar tributos, reconfigurar jurisdições administrativas e catequizar a população indígena.
Logo após a queda de Tenochtitlán, o território novohispânico passou a ser redesenhado segundo os interesses da metrópole. As primeiras representações cartográficas integravam saberes europeus e indígenas, resultando em híbridos visuais ricos e reveladores. Cartógrafos espanhóis se aliavam a tlacuilos (escribas e artistas indígenas), formando oficinas que produziam mapas com elementos simbólicos, iconográficos e linguísticos de múltiplas tradições.
Funções político-religiosas dos mapas
Os mapas coloniais no século XVI não serviam apenas para localizar geografias. Eles operavam como discursos visuais com múltiplas camadas de significado. No plano político, representavam a territorialização do império espanhol: os mapas legitimavam a posse, estruturavam a cobrança de impostos e estabeleciam fronteiras entre encomiendas e corregimientos.
No plano religioso, a cartografia foi utilizada como um instrumento de evangelização. Ao mapear vilas, igrejas e rotas de peregrinação, os frades e missionários reorganizavam o espaço simbólico mesoamericano, substituindo centros cerimoniais pré-colombianos por templos cristãos. Mapas mostravam não apenas onde os indígenas viviam, mas onde deveriam viver sob a nova ordem cristã. Era uma forma de “converter o território”, tanto fisicamente quanto espiritualmente.
Além disso, os mapas podiam ser usados em disputas judiciais entre ordens religiosas, autoridades coloniais ou mesmo caciques indígenas tentando preservar terras ancestrais. Por isso, muitos documentos cartográficos desse período carregam, simultaneamente, traços de resistência e imposição.
Tipos de mapas: mapas-relato, mapas indígenas, códices geográficos
A produção cartográfica no México colonial do século XVI pode ser dividida em três categorias principais, cada uma com objetivos e estilos distintos:
Mapas-relato: Produzidos como parte de inquéritos administrativos, como as Relaciones Geográficas encomendadas por Felipe II entre 1578 e 1585, esses mapas acompanhavam descrições textuais das províncias. Tinham caráter etnográfico, econômico e religioso, e eram frequentemente desenhados por indígenas sob orientação espanhola. Apresentavam uma fusão entre a geografia local e os símbolos coloniais.
Mapas indígenas: Criados por tlacuilos e outros artistas nativos, muitas vezes para fins internos ou como forma de mediação com os espanhóis. Esses mapas mantinham convenções gráficas pré-hispânicas, como o uso de glifos, orientação não-euclidiana, e uma leitura narrativa em vez de proporcional. Mostravam não apenas o espaço físico, mas genealogias, rituais e eventos históricos.
Códices geográficos: Eram manuscritos mais complexos, nos quais a cartografia se mesclava com registros históricos, listas de tributos e cosmologias. Esses códices documentavam a organização sociopolítica indígena e frequentemente tinham como função preservar a memória local diante da destruição colonial. Muitos foram apropriados pelas autoridades espanholas, arquivados e levados à Europa.
Exemplos: Códice Mendoza e Mapa de Uppsala
Dois documentos se destacam como testemunhos excepcionais da cartografia colonial mesoamericana:
Códice Mendoza (c. 1541): Encomendado por Antonio de Mendoza, primeiro vice-rei da Nova Espanha, esse códice tem caráter híbrido: foi escrito por tlacuilos indígenas e anotado por intérpretes espanhóis. Apresenta mapas que mostram a fundação de Tenochtitlán, rotas de conquista e tributos de províncias subjugadas, funcionando como um atlas político e econômico. Nele, é possível perceber a ausência de Teotihuacan como um centro relevante, o que mostra como sua memória estava ofuscada no início do período colonial.
Mapa de Uppsala (c. 1550): Parte das Relaciones Geográficas, esse mapa indígena da região de Cholula, preservado na Suécia, é um exemplo fascinante da fusão entre cosmologia nativa e exigências administrativas espanholas. Ele mostra não apenas locais físicos, mas símbolos religiosos, redes sociais e ligações míticas. É um testemunho visual da transição entre mundos — o indígena e o europeu — e da maneira como os tlacuilos reinterpretaram o espaço sob a ótica da colonização.
Primeiras Representações de Teotihuacan: Entre Mito e Cartografia
Primeiras menções espanholas (Sahagún, Torquemada)
A cidade de Teotihuacan, já abandonada por séculos à época da conquista espanhola, não foi ignorada pelos cronistas coloniais. Apesar de sua monumentalidade física — visível nas pirâmides do Sol e da Lua —, seu significado era um enigma para os europeus. As primeiras referências textuais conhecidas provêm de frades e historiadores que buscavam compreender a cosmovisão indígena.
Fray Bernardino de Sahagún, no monumental Códice Florentino, é um dos primeiros a mencionar Teotihuacan, embora não como uma cidade viva, mas como um espaço sagrado associado à mitologia nahua. Ele transcreveu, com a ajuda de seus informantes indígenas, a crença de que foi em Teotihuacan que os deuses se reuniram para criar o novo sol após a destruição de eras anteriores — o que a tornava um “lugar da criação”, profundamente reverenciado pelos mexicas.
Outro autor essencial é Juan de Torquemada, que no Monarquía Indiana (1615) também se refere a Teotihuacan como um sítio de veneração ancestral, destacando o papel das pirâmides como túmulos simbólicos dos deuses, ainda que com um viés cristianizante. Ambos os autores contribuíram para consolidar a ideia de Teotihuacan como um espaço mítico e não como uma metrópole histórica.
Relatos indígenas e o “lugar dos deuses”
Do ponto de vista indígena, a cidade já não era habitada, mas estava longe de ser esquecida. A tradição oral nahua preservava Teotihuacan como um espaço sagrado e liminar — o local onde os deuses haviam “morrido para que o mundo vivesse”. O próprio nome “Teotihuacan”, em náuatle, pode ser traduzido como “o lugar onde os deuses foram feitos” ou “o lugar onde se tornou deus”, carregando consigo uma poderosa conotação espiritual.
Essas narrativas não descreviam a cidade com precisão geográfica, mas com profundidade cosmológica. As pirâmides eram vistas como montanhas sagradas, alinhadas com o cosmos, e todo o vale de Teotihuacan era considerado um eixo de transição entre o mundo terreno e o divino. Ao contrário da concepção europeia de cidade, baseada em funcionalidade e administração, para os nahuas o lugar era uma “geografia sagrada”.
Importante ressaltar que muitos relatos indígenas eram registrados com a mediação de frades e intérpretes espanhóis, o que filtrava e, muitas vezes, reconfigurava o sentido original dessas narrativas. Ainda assim, é notável como o imaginário indígena resistiu, preservando Teotihuacan como um marco espiritual mesmo após séculos de abandono físico.
Primeiras aparições de Teotihuacan em mapas coloniais
A cartografia colonial do século XVI raramente representava Teotihuacan com destaque, refletindo tanto o seu abandono quanto a dificuldade de integrá-la ao novo sistema político-administrativo imposto pelos espanhóis. No entanto, há registros esparsos e simbólicos que indicam uma memória visual do local.
Um dos primeiros indícios cartográficos pode ser encontrado em mapas anexos às Relaciones Geográficas, onde aparecem estruturas piramidais próximas à região de San Juan Teotihuacan, embora frequentemente sem a nomeação clara da cidade antiga. Esses elementos gráficos indicam um reconhecimento visual do relevo monumental da área, mesmo que sua importância histórica estivesse ainda obscurecida.
Outro exemplo ambíguo é o chamado Mapa de Cuauhtinchan No. 2, de provável origem pós-clássica ou do início do período colonial. Embora não mencione Teotihuacan diretamente, muitos pesquisadores sugerem que certos elementos simbólicos do mapa — como montanhas sagradas e caminhos cósmicos — aludem a locais como Teotihuacan, integrando-os à geografia mítica dos chichimecas e nahuas.
A ausência de Teotihuacan em mapas mais formais da época, como os europeus, reforça a ideia de que a cidade era vista mais como um lugar “fora do tempo” do que um ponto de interesse geopolítico. Sua reemergência cartográfica só ganharia força no século XVII e, sobretudo, XVIII, com o florescimento da arqueologia antiquarista.
Localização simbólica como eixo espiritual
Mesmo sem um papel administrativo ou econômico no período colonial, Teotihuacan permaneceu ativa no imaginário simbólico da Mesoamérica. Sua posição geográfica no centro do vale do México, alinhada com fenômenos astronômicos e cercada por montanhas cerimoniais como o Cerro Gordo, a colocava como um eixo espiritual — um “umbigo do mundo” nas cosmologias mesoamericanas.
Essa centralidade simbólica pode ser percebida na forma como algumas comunidades indígenas continuaram a realizar peregrinações e rituais discretos no local, mesmo sob proibição colonial. Para os povos nahuas, a localização de Teotihuacan não era apenas física: era uma interseção entre planos cósmicos. A Pirâmide do Sol, por exemplo, alinha-se com o pôr do sol no solstício de verão, algo que continuava a ser interpretado como um sinal divino.
Com isso, mesmo ausente nos mapas políticos, Teotihuacan figurava como uma referência invisível, mas poderosa, no mapa simbólico do México indígena. Era um centro de memória ancestral — não necessariamente para ser ocupado ou governado, mas para ser respeitado e evocado.
A Fusão Entre Religião e Topografia: A Redescoberta Como Lugar Sagrado
Após os primeiros dois séculos da colonização espanhola, Teotihuacan passou a ser redescoberta não apenas como uma ruína arqueológica, mas como um ponto de interseção entre a religiosidade indígena persistente e a tentativa cristã de reconfigurar a paisagem espiritual do México. A fusão entre religião e topografia se intensificou, transformando Teotihuacan em um território de disputa simbólica, onde a memória sagrada indígena resistia à imposição da nova fé.
Peregrinações indígenas durante o período colonial
Apesar das campanhas de evangelização, as comunidades indígenas da região mantiveram viva a sacralidade de Teotihuacan por meio de práticas rituais discretas. Vários registros, embora muitas vezes fragmentários e filtrados pelo olhar espanhol, indicam que durante os séculos XVII e XVIII havia peregrinações silenciosas e ritos associados às pirâmides.
Relatos de autoridades coloniais e eclesiásticas denunciam “idolatrias escondidas” e “cerimônias supersticiosas” realizadas nas montanhas e nas ruínas da antiga cidade. As pirâmides eram interpretadas como “teocallis” ancestrais — templos dos deuses antigos — e serviam como locais de oferenda, purificação e conexão com o cosmos.
Muitos indígenas associavam as pirâmides a montanhas sagradas (tlachinolli), como parte de uma geografia espiritual contínua. Esses rituais, muitas vezes sincronizados com os ciclos agrícolas e astronômicos, eram uma forma de resistência cultural e reafirmação identitária.
Tentativas espanholas de cristianização do local
Conscientes da importância espiritual de Teotihuacan para os indígenas, os colonizadores empreenderam diversas estratégias para cristianizar o espaço. Em muitos sítios sagrados da Mesoamérica, os espanhóis ergueram capelas sobre templos indígenas destruídos — prática simbólica e estratégica de dominação espiritual. Em Teotihuacan, embora não haja evidência direta de construções sobre as pirâmides principais, houve tentativas de redefinir o espaço por meio de procissões, exorcismos e celebrações cristãs.
Frades franciscanos e dominicanos organizaram procissões e missas nas imediações da antiga cidade com o intuito de apagar as práticas indígenas. Um exemplo significativo foi a consagração de colinas próximas, como o Cerro Gordo, à Virgem Maria ou a santos específicos, substituindo as divindades indígenas por figuras cristãs. A tentativa de integrar o espaço ao calendário litúrgico católico foi recorrente.
Em alguns casos, os próprios rituais indígenas foram reconfigurados em festas sincréticas, como forma de evitar sua supressão completa. Esse fenômeno ajudou a manter Teotihuacan viva na memória coletiva, ainda que disfarçada sob o verniz do cristianismo popular.
Integração de Teotihuacan como marco geográfico e espiritual
Com o passar do tempo, Teotihuacan começou a ser reinserida no imaginário coletivo não apenas como uma relíquia do passado, mas como um marco geográfico e espiritual ativo. Sua monumentalidade inegável, visível mesmo de grandes distâncias, fazia com que o local fosse utilizado como ponto de orientação física, mas também espiritual.
Para comunidades indígenas locais, Teotihuacan passou a funcionar como uma espécie de “ombro sagrado” da paisagem, um elo entre o presente e os deuses antigos. A topografia da região reforçava essa percepção: as pirâmides estavam alinhadas com montanhas veneradas, com o movimento do sol e com práticas agrícolas ancestrais.
Cartógrafos coloniais e cronistas tardios começaram a mencionar Teotihuacan em mapas regionais como um “lugar de importância ancestral”. Embora ainda sob o estigma da “idolatria”, o local assumia uma ambiguidade simbólica: era ao mesmo tempo ruína, relíquia, obstáculo à conversão e testemunho de uma civilização grandiosa.
Influência da igreja e dos cronistas franciscanos
Os franciscanos foram os principais responsáveis por registrar, reinterpretar e — em muitos casos — reprimir as práticas religiosas associadas a Teotihuacan. Sua visão dualista — entre verdade cristã e idolatria indígena — gerou documentos valiosos, mas profundamente marcados por um viés de controle espiritual.
Cronistas como Motolinía e Sahagún, embora em épocas diferentes, expressaram fascínio e temor pelas “antigas grandezas” dos povos indígenas. Em suas obras, Teotihuacan aparece como um “centro de erro” — uma antiga sede de adoração demoníaca que deveria ser purificada pelo cristianismo.
Paradoxalmente, foram esses mesmos frades que registraram os mitos da criação indígena ligados a Teotihuacan, perpetuando seu significado simbólico mesmo dentro de narrativas cristianizadas. Assim, a igreja funcionou simultaneamente como agente de apagamento e de preservação — documentando, reinterpretando e influenciando a memória do lugar.
A Evolução da Cartografia: De Referência Simbólica a Localização Arqueológica
Nos séculos XVII e XVIII, os mapas coloniais, embora inicialmente imprecisos em relação à topografia e ao significado das ruínas, começaram a evoluir. O aumento da precisão cartográfica, aliado ao crescente interesse pelos vestígios das antigas civilizações, marcou a transição de uma cartografia simbólica e mitológica para uma mais técnica e científica. Teotihuacan, que antes era apenas um lugar de importância religiosa e simbólica, começou a ser mapeada com um olhar mais detalhado, abrindo caminho para os estudos arqueológicos que se aprofundariam nos séculos seguintes.
Mapas dos séculos XVII e XVIII com maior precisão
Durante o século XVII e XVIII, o processo de cartografia das Américas foi gradualmente aprimorado. Ao contrário dos primeiros mapas coloniais, que misturavam informação geográfica com interpretações religiosas ou mitológicas, os mapas deste período começaram a refletir uma tentativa mais sistemática de registrar e localizar cidades, territórios e ruínas.
Embora Teotihuacan continuasse a ser um ponto de interesse religioso e simbólico, os cartógrafos coloniais começaram a apresentar representações mais precisas de suas pirâmides e estruturas. Não mais relegadas a um status puramente mítico, as ruínas passaram a ser mapeadas com mais clareza, o que possibilitou o surgimento de um primeiro esboço da cidade como um local de relevância histórica e geográfica.
É importante notar que, nesse período, a precisão dos mapas ainda era limitada pela técnica disponível, e muitos detalhes eram descritos de forma vaga ou interpretados de maneira errônea. No entanto, essas representações foram um passo importante para o entendimento de Teotihuacan, ainda que a cidade fosse vista principalmente como uma “cidade mítica” ligada ao antigo império tolteca, e não como um objeto de estudo arqueológico.
Relação com os primeiros estudos arqueológicos
Com o aumento da precisão nos mapas coloniais, os primeiros passos da arqueologia moderna começaram a se dar na região de Teotihuacan. Nos séculos XVIII e XIX, a crescente curiosidade sobre as antigas civilizações mesoamericanas, alimentada pelo contato com estudiosos europeus e pelo questionamento das origens da civilização indígena, estimulou os primeiros estudos arqueológicos nas ruínas.
Entre os principais estudiosos dessa época, destacam-se os padres e cronistas, que, mesmo não sendo arqueólogos no sentido moderno da palavra, realizaram escavações e registraram os achados. No entanto, foi com a chegada dos primeiros arqueólogos europeus, no século XIX, que a relação entre os mapas coloniais e os estudos arqueológicos se intensificou.
Os mapas, agora mais detalhados, ajudaram a identificar e localizar estruturas importantes, como as pirâmides do Sol e da Lua, permitindo que as escavações se concentrassem em áreas específicas. Esse processo foi essencial para a reinterpretação da cidade, que passou de um local sagrado e mitológico para um sítio arqueológico com um potencial histórico muito mais profundo.
Cartógrafos criollos e ilustradores independentes
Além dos mapas produzidos pelos oficiais espanhóis, um número crescente de cartógrafos criollos (filhos de espanhóis nascidos nas colônias) e ilustradores independentes começaram a elaborar suas próprias representações cartográficas de Teotihuacan. Esses indivíduos, imersos na cultura local, tiveram um papel fundamental na documentação das ruínas, muitas vezes imbuídos de uma sensibilidade mais próxima da realidade indígena.
Esses cartógrafos criollos eram, em muitos casos, descendentes de famílias que estavam profundamente enraizadas na história e cultura local. Seu interesse pelas ruínas de Teotihuacan não era apenas científico, mas também cultural, com muitos considerando o local como um patrimônio a ser preservado e compreendido.
Seus mapas não apenas ajudaram a preencher as lacunas deixadas pelos cartógrafos coloniais, mas também incluíram descrições detalhadas das estruturas e possíveis interpretações das mesmas. Esses ilustradores e cartógrafos independentes, muitas vezes com pouca ou nenhuma ajuda oficial, foram pioneiros na representação precisa das ruínas e desempenharam um papel essencial na criação da base para os estudos arqueológicos que viriam a seguir.
Conexões com as escavações do século XIX (ex: Leopoldo Batres)
Foi apenas no século XIX, com o desenvolvimento das primeiras escavações arqueológicas profissionais, que a verdadeira ciência começou a se estabelecer em Teotihuacan. O engenheiro e arqueólogo Leopoldo Batres é um dos primeiros nomes a surgir no contexto das escavações sistemáticas da cidade.
Batres, um dos primeiros a realizar escavações extensas na área, utilizou os mapas mais precisos dos séculos anteriores para guiar seus trabalhos. Durante suas escavações, que ocorreram entre 1880 e 1900, Batres documentou uma enorme quantidade de artefatos e fez um grande avanço na compreensão da estrutura da cidade. Sua combinação de técnicas cartográficas e escavações iniciais ajudou a estabelecer o entendimento moderno de Teotihuacan como uma cidade organizada, com uma topografia simbólica e religiosa.
As descobertas de Batres foram fundamentais para o renascimento de Teotihuacan na memória histórica e científica do México e além. Ele não apenas localizou importantes estruturas, como a Pirâmide do Sol, mas também mapeou com precisão várias outras áreas, o que permitiu aos arqueólogos posteriores interpretar a cidade de maneira mais científica.
A Redescoberta Arqueológica Formal no Século XIX: Eco dos Mapas Antigos
A redescoberta de Teotihuacan no século XIX não foi um processo abrupto, mas um processo gradual que se baseou em uma combinação de fatores, incluindo o legado dos mapas coloniais, a crescente curiosidade europeia sobre as civilizações pré-colombianas e o desenvolvimento da arqueologia como uma disciplina formal. A cidade, que foi mapeada e mitificada ao longo dos séculos, começou a ser interpretada de maneira mais científica, com a arqueologia tomando o lugar da mitologia para reconstruir o passado da Mesoamérica.
Influência dos mapas coloniais nas expedições modernas
Os mapas coloniais do século XVI e XVII desempenharam um papel crucial nas expedições arqueológicas do século XIX. Embora as representações iniciais de Teotihuacan nos mapas fossem mais simbólicas do que precisas, essas representações ajudaram a guiar os arqueólogos para os locais corretos, onde as escavações começaram a revelar artefatos e estruturas de grande importância.
Mapas como os do Códice Mendoza, que mostravam uma visão geográfica do Império Mexica, e outras representações cartográficas feitas por cronistas e cartógrafos criollos, foram essenciais para os arqueólogos que, no século XIX, começaram a fazer uso de técnicas científicas para estudar o passado. Ao comparar essas antigas representações com os vestígios encontrados nas escavações, os arqueólogos puderam entender melhor a organização e o simbolismo das construções de Teotihuacan, além de localizar novas áreas para investigação.
Essa interligação entre a cartografia colonial e as descobertas arqueológicas foi um reflexo direto do legado dos mapas antigos, que, mesmo não sendo cientificamente precisos, tinham um grande valor histórico e geográfico. Assim, os mapas coloniais serviram não apenas como um ponto de partida, mas também como uma memória visual, permitindo que os arqueólogos do século XIX reconstruíssem um quadro mais claro da antiga cidade.
Participação de pesquisadores europeus e norte-americanos
O século XIX foi marcado por um intenso intercâmbio cultural e científico entre a Europa, os Estados Unidos e o México, que resultou na participação de diversos pesquisadores estrangeiros nas escavações de Teotihuacan. Figuras como o arqueólogo francês Désiré Charnay, que visitou o México na década de 1850, desempenharam um papel fundamental na exploração das antigas ruínas. Charnay, em particular, documentou várias descobertas nas pirâmides e outras estruturas da cidade, utilizando uma abordagem mais sistemática e científica do que seus predecessores coloniais.
Além de Charnay, outros pesquisadores europeus e norte-americanos se interessaram pelo potencial arqueológico de Teotihuacan, como os americanos William H. Holmes e Charles D. Walcott, que trabalharam no México no final do século XIX. Eles foram fundamentais para introduzir a arqueologia como uma disciplina moderna, aplicando métodos mais rigorosos e investigando Teotihuacan com base em novas perspectivas, como a análise de artefatos e a estratigrafia dos sítios.
Esse influxo de cientistas e arqueólogos internacionais teve uma importância significativa na formalização da arqueologia como uma disciplina no México. Esses pesquisadores, frequentemente apoiados por instituições europeias e norte-americanas, começaram a desvendar as camadas de história de Teotihuacan, deixando uma marca indelével na forma como a cidade era percebida no cenário global.
Arqueologia como nova forma de cartografar a memória indígena
No século XIX, a arqueologia passou a ser vista como uma forma de cartografar não apenas a geografia física, mas também a memória cultural indígena. Em vez de simplesmente estudar os vestígios físicos, os arqueólogos começaram a considerar os aspectos simbólicos e espirituais das civilizações que haviam habitado o México antes da chegada dos europeus. A cidade de Teotihuacan, com sua impressionante arquitetura e design geométrico, tornou-se um ponto de referência para compreender a cosmovisão indígena, seus rituais religiosos e seus sistemas de organização social.
Ao contrário dos mapas coloniais, que frequentemente representavam as cidades antigas de forma superficial ou errônea, a arqueologia do século XIX se concentrava em uma abordagem mais holística. Através das escavações e das novas metodologias, como o estudo de artefatos e a análise de estratificação, os arqueólogos puderam reconstruir a história de Teotihuacan como um lugar onde a cultura indígena era celebrada e preservada, mas ao mesmo tempo reinterpretada pelos colonizadores.
Os estudos arqueológicos de Teotihuacan também estavam intimamente ligados à ideia de memória coletiva. Teotihuacan não era mais apenas um local de culto religioso; ela representava um símbolo da história indígena que havia sido sistematicamente apagada durante a colonização. Com a arqueologia, essa memória começou a ser recuperada, e a cidade se tornou um emblema do esforço de preservação da herança indígena, sendo encarada, na nova perspectiva arqueológica, como um ponto de resistência cultural.
Teotihuacan no México pós-independência: reconstrução ideológica
Após a independência do México em 1821, o país iniciou um processo de reconstrução ideológica que procurava legitimar sua identidade nacional. Nesse contexto, Teotihuacan assumiu um papel simbólico crucial, sendo vista como uma referência cultural para a formação de um México moderno e soberano, enraizado em suas origens indígenas.
A redescoberta científica de Teotihuacan ajudou a consolidar essa visão de um México pré-colombiano como uma nação com uma rica herança cultural, afastada das imposições da colonização espanhola. A arqueologia de Teotihuacan tornou-se uma ferramenta importante para a construção do nacionalismo mexicano, promovendo a ideia de que a grandeza do país já estava presente muito antes da chegada dos conquistadores espanhóis.
Nesse período pós-independência, os governantes mexicanos buscaram resgatar os elementos históricos das civilizações indígenas, e Teotihuacan, com sua grandiosidade arquitetônica e importância simbólica, passou a ser vista como um símbolo da força e da resistência do povo indígena. Em um cenário onde a identidade nacional estava sendo redefinida, as descobertas arqueológicas em Teotihuacan serviram para reforçar o vínculo entre o México moderno e suas raízes indígenas.
Teotihuacan: O Renascimento de uma Memória Perdida
Teotihuacan, um dos maiores e mais enigmáticos centros urbanos da Mesoamérica, atravessou séculos de esquecimento, até ser redescoberta como um monumento essencial para a identidade mexicana. De um local soterrado pelo tempo e pelos mitos a um ícone de resistência cultural, a cidade tem sido ressignificada ao longo da história, com a cartografia e a arqueologia desempenhando papéis cruciais nesse processo. Mas o que, de fato, revela essa jornada de apagamento e renascimento? E como a cidade se tornou um símbolo não só do passado indígena, mas também da construção de um México moderno e plural?
O Apagamento, Ressignificação e Valorização da Cidade
Após a queda das grandes civilizações mesoamericanas, como os Mexicas e os Toltecas, Teotihuacan mergulhou no esquecimento, sendo relegada ao status de mito e lenda durante a colonização. A cidade, rica em complexidade arquitetônica e cultural, foi apagada da memória histórica, não apenas pelos conquistadores espanhóis, mas também pela sociedade colonial, que a viu como um reflexo do “outro” e do “selvagem”. Durante séculos, seu significado real foi distorcido ou desconsiderado, e as ruínas de suas imponentes pirâmides foram esquecidas.
Entretanto, à medida que o estudo arqueológico foi se desenvolvendo, especialmente a partir do século XIX, Teotihuacan começou a ser ressignificada. Suas estruturas gigantescas passaram a ser reconhecidas não apenas como vestígios de uma civilização perdida, mas como marcos de resistência e legado. O processo de valorização da cidade teve uma importância imensa na reinterpretação da história mexicana, permitindo que Teotihuacan fosse celebrada não apenas como um sítio arqueológico, mas como um símbolo de continuidade cultural e de identidade.
Contribuição da Cartografia Colonial para o Reconhecimento Histórico
Os mapas coloniais, embora muitas vezes imprecisos, desempenharam um papel fundamental no resgate da memória histórica de Teotihuacan. Eles ajudaram a delinear a geografia de um império indígena que havia sido praticamente apagado das narrativas oficiais. Os cartógrafos coloniais, mesmo que sem intenção científica, traçaram as primeiras representações das ruínas, muitas vezes influenciadas por uma visão religiosa e simbólica do espaço.
Esses primeiros registros cartográficos, mesmo que errôneos, serviram como um ponto de partida para o estudo arqueológico posterior, permitindo que estudiosos e pesquisadores localizassem as áreas de maior relevância e fizessem as primeiras escavações. As representações cartográficas também foram essenciais para a construção da memória coletiva de Teotihuacan, auxiliando na recuperação de seu status como uma cidade histórica de grande importância.
Interdisciplinaridade entre História, Geografia e Arqueologia
O estudo de Teotihuacan não poderia ser reduzido a uma única disciplina. A interdisciplinaridade entre história, geografia e arqueologia foi crucial para o entendimento completo da cidade. Enquanto a história forneceu as narrativas sobre a queda de grandes impérios e a vida cotidiana em Teotihuacan, a geografia ajudou a mapear e localizar as antigas estruturas. A arqueologia, por sua vez, trouxe à tona as evidências materiais, desde cerâmicas até ferramentas, que permitiram a reconstrução do passado de Teotihuacan com um grau de precisão nunca antes alcançado.
A combinação desses campos de estudo revelou a complexidade de Teotihuacan e fez com que a cidade fosse vista não apenas como uma relíquia do passado, mas como um espaço vivo de significados, símbolos e histórias. A integração dessas disciplinas forneceu uma visão holística de Teotihuacan, mostrando que ela não era apenas um centro urbano, mas também um ponto de convergência de diferentes mundos – o indígena, o colonial e o moderno.
Teotihuacan como Símbolo de Identidade Mexicana
No pós-independência, Teotihuacan ganhou uma importância renovada como símbolo de identidade nacional no México. À medida que o país buscava afirmar-se como uma nação independente, longe da herança colonial espanhola, a cidade antiga passou a representar o poder e a grandeza das civilizações indígenas, que haviam sido quase apagadas durante séculos.
Teotihuacan se tornou um ícone do México moderno, sendo reconhecida não apenas como um sítio arqueológico, mas também como um símbolo de resistência e de continuidade cultural. Suas pirâmides e templos tornaram-se emblemas de uma nação que, mesmo após séculos de colonização, resistiu e preservou sua herança. Ao colocar Teotihuacan no centro da narrativa nacional, o México não apenas recuperou uma parte fundamental de sua história, mas também reafirmou seu compromisso com a valorização das culturas indígenas, essenciais para a formação do país contemporâneo.